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Remember to Forget you - cap 3

Cap.3

Acordei com os raios de sol a entrarem pela janela do meu quarto. Levantei-me e fiquei a olhar à volta. Que estranho… não tenho despertador, nem telemóvel. Tenho um roupeiro do tamanho de um quarto mas um relógio para ver as horas está quieto. Se calhar deram-me a escolher e eu optei pelo armário, que estupida! Agora horas davam jeito. Levanto-me, ando às voltas um bocado pelo quarto à procura de uns chinelos decentes, mas nada. Lá vai ter que ser aquelas coisas felpudas ao fundo da cama. Mas o que é que eu fiz? Roubei dois ursos de peluche às criancinhas e transformei-os em pantufas? Peguei naquele Cd, sai do meu quarto, dirigi-me para a cozinha e enquanto ia para lá punha-me a passar os olhos pelos títulos das canções, tentando perceber qual delas tinha desencadeado tal reação em mim. Mas nenhuma me parecia demasiado chocante, ou demasiado chamativa para tal. Peguei numa maçã e pus-me a morde-la enquanto me concentrava no cd, sem qualquer alternativa olhei em redor e reparei que tinha um pequeno rádio preto na cozinha, aproximei-me dele e coloquei o cd, ouvindo as músicas a passarem. Peguei na minha maçã que a tinha pousado na bancada para colocar o cd, e sentei-me na bancada mínima que tinha na cozinha mordiscando a maçã. Estava tão atenta à maçã e às musicas que perdi completamente a noção das horas e só voltei a mim quando ouvi o meu irmão a gritar por todo a casa.

- Siiim? – gritei de volta da cozinha e voltei a aproximar-me do pequeno rádio com o objetivo de o desligar.

- Ah estás aqui. – constatou respirando fundo deixando-me confusa. Estava à espera que eu me esquecesse de novo das coisas e decidisse fugir? Também ninguém o manda ter uma casa com dois andares. Então já sabes que vais fazer hoje?

- Estava a pensar em dar uma volta por aí, aproveitar para ver se reconheço algo, ou então ficava em casa. – respondi ao que ele sorriu.

- Porque é que não pedes à Fiona para te mostrar a cidade? Vocês andavam sempre juntas, se há alguém que te pode ajudar é ela. – informou-me ao que eu assenti. Ia a sair da cozinha quando ele me chama mais uma vez e me entrega uma caixa, deixando-me confusa a observa-lo – É igual ao teu telemóvel, capa e tudo. Consegui extrair todas as mensagens que tinhas e todas as chamadas para esse, um amigo meu é bom nessas coisas e conseguiu recuperar ainda as coisas dos restos do teu antigo telemóvel.

- Não precisavas, mas obrigada. – Agradeci e fui até ao meu quarto, sentei-me na cama e com cuidado abri a caixa, desembrulhando o pequeno telemóvel, que de pequeno não tinha nada. Mas isto é um telemóvel ou um computador? Agora já percebo o porquê de ter malas tão grandes. E claro a capa é cor de rosa com duas orelhas de coelho, como é que eu não estava à espera? Os meus pensamentos foram interrompidos pela vibração provinda do aparelho cor de rosa que tinha nas mãos, olhei para o ecrã e vi o nome “Fiona” escrito, atendi e fiquei à espera que falassem.

Buuuuuu! Já estás sociável. – comenta como se fosse uma coisa de outro mundo – Daqui a 2 minutos estou aí, estou só aqui no café ao fundo da rua a comprar umas coisas. Vai abrindo a porta.

Ok - foi a única coisa que consegui dizer por ela já tinha desligado.”

Pousei o telemóvel em cima da mesa de cabeceira e fui até à porta, onde me deparei com um grande problema “Como abrir a porta?”. É um atendedor cheio de botões, e não sei das instruções disto, portanto só tenho uma solução, carregar em tudo e esperar que algo abra a porta. Toquei num botão e na mini televisão apareceu a entrada do meu prédio, depois carreguei noutro e começou a dar uma musica muito irritante, e por fim carreguei num que fez um estalido e ouve-se uma voz “Porta aberta, por favor fechar antes de entrar”.

- Estás bem Mi? – pergunta o meu irmão vendo-me feita parva a olhar para o atendedor.

- Eu sei que perdi a memória mas tenho quase a certeza que é “Por favor fechar depois de entrar”. – Constato ao que o meu irmão se riu.

- O atendedor tem uns certos erros, mas dá para de vez em quando dar umas gargalhadas e no dia em que tu o instalaste desmanchaste-te a rir com isso. – comentou ao que eu assenti. A minha vontade agora não era de me rir, era de destruir o atendedor, mas hey, quem sabe se eu no futuro não vou gostar dele. O som de alguém a bater à porta distraiu-me de matar o atendedor, fui até à mesma e abri-a.

- Buuuuu, as saudades que eu já tinha de te ver assim. - disse abraçando-me ao que eu retribui – Desculpa, eu esqueço-me que tu não te lembras.  – pediu quando se afastou de mim ao que eu encolhi os ombros e sorri ligeiramente – Por onde é que queres começar?

- Podemos ir para o meu quarto? – pergunto ao que ela sorriu e assentiu, fomos até ao mesmo caladas e quando la chegamos eu fui até à minha cama e apontei-lhe para os meus pés – Primeiro explica-me o que é isto. – peço ao que ela me olha confusa um pouco desconfortável.

- São dois pés, tu usa-los para andar. E não experimentes ir para a rua descalça, acredita é ainda mais doloroso do que se andares de saltos.

- Não é isso, é isto!!! – atiro quando a interrompi, apontando especificamente para os coelhos de peluche que tinha nos pés, levando-a a rir-se.

- É a razão pela qual toda a gente de chama de Bunny. Tu viste-os em saldos e desde logo que te apaixonaste por eles e então compraste-os, desde então quer seja verão ou inverno estás sempre a usá-los. – respondeu-me ao que eu suspirei e fiz uma cara de pânico – Espera até saberes a segunda parte. Tens um segundo para desses. Compraste dois para quando uns fossem lavar pudesses utilizar os outros.

- Há dois? – pergunto chocada ao que ela se ri e acena. Instintivamente cai na cama e fiquei a olhar para o teto – Sinto como se não pertencesse aqui, nada do que usava antigamente faz sentido, exceto aqueles ténis e aquelas calças de ganga que estão dentro do meu armário. O meu armário é do tamanho do meu quarto, tenho um telemóvel cor de rosa, com coelhos e ainda nem cheguei à pior parte!!

- Qual é? – pergunta curiosa e um tanto divertida. Hey amiga isto não é para teu entretenimento, eu é que estou assustada com isto tudo.

- Tenho uma casa de dois andares, onde a minha cozinha é micro, porque cozinho sempre tudo na do meu “suposto” – faço aspas com os dedos – irmão e dois quartos de hospedes, para as pessoas de fora.

- É normal agora estares assustada, eu explico-te tudo o que quiseres saber sim? Eu ajudo-te em tudo, até te ajudo a compreender o teu guarda fato se for preciso. – diz acalmando-me – Mas para já, toma. ­­­- estica-me um saco de papel com algo la dentro, eu pego nele e abro-o ficando a observa-lo – Era o teu bolo preferido, achei que se calhar te ia ajudar a trazer novas sensações e memórias de volta, experimenta.

Eu tiro com cuidado um muffin de chocolate com uma cobertura, daquilo que eu suponho ser, morango e fico a observar a sua beleza. Dei uma pequena trinca e fiquei a saborear aquele pequeno pecado, aqueles pequenos segundos de prazera desfazerem-se na minha boca. Agora estou mais calma por saber que há algo com que me identifique, sei que já o provei antes, mas é como se tivesse que redescobrir tudo de novo.

- Então? - perguntou-me nervosa ao que eu assinto freneticamente e completamente babada por aquele pequeno bolo – Eu sabia que o Muffin não me ia falhar. Chama-se “delicia secreta”, com um toque de morango, feito especialmente para ti, o pasteleiro do café é nosso amigo e então nós somos as suas júris, sempre que quer tentar algo novo pergunta-nos a nós, esse foi o único que não foi escolhido pelo publico geral, mas tu desde a primeira trinca que te fascinaste por ele, então ele fá-lo todos os dias para ti. E deixa sempre um pequeno recado. – explica-me ao que eu fico a olhar para ela, assimilando tudo. Até que tem um certo sentido, o porquê de gostar tanto do muffin e o calor e a sensação de carinho que sinto ao come-lo. Ela passou-me o pequeno cartão e eu abri-o, lendo cada palavra que lá se encontrava

“Pequena júri, espero que melhores depressa. Já sinto a tua falta, falta da tua visão critica, falta das tuas discussões sobre as pepitas e acima de tudo falta do teu paladar, que era acertado e me dizia sempre o que estava em falta. Lembra-te depressa. “

Fiquei sem saber o que dizer, o que pensar, só sei que a Fiona tira-me o cartão da mão e puxa-me pelo braço.

- Onde vamos?

- Sair, dar uma volta, mostrar-te algo que talvez te faça lembrar de algo. – explica ao que eu assinto. 

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